quarta-feira, 27 de julho de 2011

ARTE PARA QUÊ?


 
Vivemos em um mundo de visualidades. Cercados por imagens, viver nos espaços urbanos é deparar-se com múltiplos estímulos visuais.
No entanto, os apelos visuais não se limitam a fronteiras geográficas. Veículos como a televisão e a internet fazem circular imagens em tempo real pelos mais distantes lugares. Isso faz com que uma cena acontecida no Japão possa ser vista no Brasil simultaneamente ao fato. Por isso, viver longe das cidades grandes é também se deparar com imagens as
mais diversas.
Os diferentes apelos visuais interferem na compreensão que se tem sobre o cotidiano e contribuem para formular idéias sobre lugares, culturas, acontecimentos. Nosso dia-a-dia está povoado de imagens da mídia, formas de propaganda, folhetos explicativos, fotografias, imagens da internet, jornais, enfim, há um número muito grande de formas
visuais.
Todas essas formas correspondem a maneiras de interpretar o mundo. São maneiras de se integrar ao tempo e ao espaço. As imagens postas em jogo no cotidiano instauram a necessidade de interpretação, isso porque são formas criadas a partir de certa cultura, dentro de uma ideologia, ou seja, não são neutras.
A visualidade dos espaços coletivos – que se configura na arquitetura das cidades, dos povoados, das aldeias – está relacionada  com as imagens dos outdoors, dos banners, dos cartazes de propaganda, dos letreiros das lojas, da organização das vitrines, dos veículos que trafegam, da paisagem bucólica.
Essa visualidade é criada dentro de determinadas concepções. As cores e formas escolhidas para uma determinada imagem se relacionam com a cultura que lhe atribui sentido, isto é, a criação da imagem corresponde a uma tradição. Ao criar certa visualidade, está-se reiterando uma maneira de pensar. Quando um artista cria uma forma reverbera concepções do coletivo.
A arte é parte material da cultura. Está submetida ao conjunto de valores sociais criados em torno de fazeres cotidianos. Sendo assim, o  artista se vale da matéria-prima que lhe impregna as concepções sobre si e sobre o outro.
 A arte cria sentidos para ler o cotidiano, apresenta maneiras de superar o comum e aprofundar-se nas idéias sobre o convívio social. Ela é uma possibilidade de criar sentidos ao já posto, de transcender a realidade, abrindo frestas para a imaginação criadora.
Essa magnífica capacidade humana de imaginar permite alterar o cotidiano ou, pelo menos, encontrar espaços para compreender de outra maneira a realidade que nos cerca.

No contexto educativo, o termo artes visuais substituiu a designação artes plásticas para nomear a grande área da visualidade. Isso porque a concepção ampliou-se de artes plásticas – que abrangia as belas-artes – para artes visuais, por incorporar várias manifestações visuais como: desenho, pintura, escultura, gravura e artes gráficas, vídeo, cinema, televisão, grafite, animação.
Criar uma obra de arte vai além da utilização da linguagem (desenho, pintura, escultura), vai além do domínio técnico, porque criar uma forma demanda reflexão, conhecimento sobre o objeto. Além disso, a obra de arte comunica ideias.
Chama-se linguagem artística o veículo que possibilita dar forma à determinada idéia. As linguagens são constituídas de vocabulário próprio. Assim, o desenho tem a linha como vocábulo, e o conjunto de linhas utilizadas em direções diferentes, com intensidades variáveis, será o vocabulário dessa linguagem.
As imagens são parte do cotidiano e nossa relação com elas é imprescindível. Lemos os cartazes das lojas, o gesto do feirante enquanto mostra seu produto, o caminhar de um transeunte. Essas leituras compõem nossa maneira de pensar. Assim, as imagens, o movimento, os sons podem ser considerados formas não-verbais, passíveis de leitura,
como textos (não-verbais). Para lermos textos não-verbais (não constituídos por letras) necessitamos de outras maneiras de interação.
Essas outras leituras mobilizam a capacidade de compreender múltiplos significados, em relação no tempo e no espaço. É necessário saber ler a obra para poder atribuir sentidos a ela. Na sala de aula, a criação artística parte de linguagens. São as maneiras de transformar idéias em formas visuais.
                  

terça-feira, 26 de julho de 2011

CARINHOS QUENTES


Era uma vez, há muito tempo, um casal feliz, Antônio e Maria, com dois filhos chamados João e Lúcia. Para entender a felicidade deles, é preciso retroceder àquele tempo.
Cada pessoa, quando nascia, ganhava um saquinho de carinhos. Sempre que uma pessoas punha a mão no saquinho podia tirar um Carinho Quente. Os Carinhos Quentes faziam as pessoas sentirem-se quentes e aconchegantes, cheias de carinho, as pessoas que não recebiam Carinhos Quentes punham-se ao perigo de pegar uma doença nas costas que as fazia murchar e morrer.
Era fácil receber Carinhos Quentes. Sempre que alguém os queria, bastava pedi-los. Colocando-se a mão na sacolinha surgia um carinho do tamanho da mão de uma criança. Ao vir à luz o carinho se expandia e se transformava num grande Carinho Quente que podia ser colocado no ombro, na cabeça, no colo da pessoa, então, misturava-se com a pele e a pessoa se sentia toda bem.
As pessoas viviam pedindo Carinhos Quentes umas às outras e nunca havia problemas para consegui-los, pois eram dados de graça. Por isso todos eram felizes e cheios de carinhos, na maior parte do tempo.
Um dia uma bruxa má ficou brava porque as pessoas sendo felizes, não compravam as poções e ungüentos que ela vendia. Por ser muito esperta, a bruxa inventou um plano muito malvado. Certa manhã ela chegou perto de Antônio enquanto Maria brincava com a filha e cochichou em seu ouvido: "Olha Antônio, veja os carinho que Maria esta dando à Lúcia. Se ela continuar assim vai consumir todos os carinhos e não sobrará nenhum para você. "
Antônio ficou admirado e perguntou: "Quer dizer então que não é sempre que existe um Carinho Quente na sacola?"
E a bruxa respondeu: "Eles podem acabar e você não os ganhará mais". Dizendo isso a bruxa foi embora, montada na vassoura, gargalhando muito.
Antônio ficou preocupado e começou a reparar cada vez que Maria dava um carinho quente para outra pessoa, pois temia perdê-los. Então começou a se queixar a Maria, de quem gostava muito. Antônio também parou de dar carinhos aos outros, reservando-os somente para ela.
As crianças perceberam e passaram também a economizar carinhos, pois entenderam que era errado dá-los. Todos ficaram cada vez mais mesquinhos.
As pessoas do lugar começaram a sentir-se menos quentes e acarinhados e algumas chegaram a morrer por falta de Carinhos Quentes. Cada vez mais gente ia à bruxa para adquirir ungüentos e poções. Mas a bruxa não queria realmente que as pessoas morressem porque se isso ocorresse, deixariam de comprar poções e ungüentos: inventou um novo plano.
Todos ganhavam um saquinho que era muito parecido com o saquinho de carinhos, porém era frio e continha Espinhos Frios. Os Espinhos Frios faziam as pessoas sentirem-se frias e espertadas, mas evitava que murchassem.
Daí pra frente, sempre que alguém dizia: "Eu quero um Carinho Quente" aqueles que tinham medo de perder um suprimento, respondiam: "Não posso lhe dar um Carinho Quente, mas se você quiser, posso dar-lhe um Espinho Frio."
A situação ficou muito complicada porque, desde a vinda da bruxa havia cada vez menos Carinhos Quentes para se achar e estes se tornaram valiossíssimos. Isso fez com que as pessoas tentassem de tudo para conseguí-los.
Antes da bruxa chegar as pessoas costumavam se reunir em grupos de três, quatro, cinco, sem se preocupar com quem estava dando carinho para quem. Depois que a bruxa apareceu, as pessoas começaram a se juntar aos pares, e a reservar todos os seus Carinhos Quentes exclusivamente para o parceiro. Quando se esqueciam e davam um Carinho Quente para outra pessoa, logo se sentiam culpadas. As pessoas que não conseguiam encontrar parceiros generosos precisavam trabalhar muito para obter dinheiro e comprá-los.
Outras pessoas se tornaram simpáticas e recebiam muitos Carinhos Quentes sem ter de retribuí-los. Então, passavam a vendê-los aos que precisavam deles para sobreviver. Outras pessoas, ainda pegavam os Espinhos Frios, que eram ilimitados e de graça, cobriam-nos com cobertura branquinha e estufada, fazendo-os passar por Carinhos Quentes. Eram na verdade carinhos falsos, de plástico, que causavam novas dificuldades. Por exemplo, duas pessoas se juntavam e trocavam entre si, livremente, seus Carinhos de Plásticos. Sentiam-se bem em alguns momentos mas, logo depois sentiam-se mal. Como pensavam que estavam trocando Carinhos Quentes, ficavam confusas.
A situação, portanto, ficou muito grave.
Não faz muito tempo uma mulher especial chegou ao lugar. Ela nunca tinha ouvido falar na bruxa e não se preocupava que os Carinhos Quentes acabassem. Ela os dava de graça, mesmo quando não eram pedidos.
As pessoas do lugar desaprovavam sua atitude porque essa mulher dava as crianças a idéia de que não deviam se preocupar com que os Carinhos Quentes terminassem, e a chamavam de Pessoa Especial.
As crianças gostavam muito da Pessoa Especial porque se sentiam bem em sua presença e passaram a dar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade.
Os adultos ficavam preocupados e decidiram impor uma lei para proteger as crianças do desperdício de seus Carinhos Quentes. A lei dizia que era crime distribuir Carinhos Quentes sem licença. Muitas crianças, porém, apesar da lei, continuavam a trocar Carinhos Quentes sempre que tinham vontade ou alguém os pedia. Como existiam muitas crianças, parecia que elas prosseguiriam seu caminho.
Ainda não sabemos dizer o que acontecerá. As forças da leis e da ordem dos adultos forçarão as crianças a parar com sua imprudência? Os adultos se juntarão a Pessoa Especial e as crianças e entenderão que sempre haverá Carinhos Quentes, tantos quantos necessários? Lembrar-se-ão dos dias em que Carinhos Quentes eram inesgotáveis porque eram distribuídos livremente?
E qual dos lados você está?
O que você pensa disto?

A arte integra, possibilitando trabalho de grupo, conhecimento e expressão individual e coletiva.


“O homem cria, não apenas porque quer, ou porque gosta, e sim porque precisa; ele só pode crescer, enquanto ser humano, coerentemente, ordenando, dando forma, criando.”    Fayga Ostrower

“Arte é um importante trabalho educativo, pois procura, através das tendências individuais, encaminhar a formação do gosto, estimula a inteligência e contribui para a formação da personalidade do indivíduo, sem ter como preocupação única e mais importante à formação de artistas.  
No seu trabalho criador, o indivíduo utiliza e aperfeiçoa processos que desenvolvem a percepção, a imaginação, a observação, o raciocínio, o controle gestual. Capacidade psíquica que influem na aprendizagem.
No processo de criação ele pesquisa a própria emoção, liberta-se da tensão, ajusta-se, organiza pensamentos, sentimentos, sensações e forma hábitos de trabalho. Educa-se.”
Professora Maria de Lourdes Batista.